segunda-feira, 25 de abril de 2011

Transitando...


Em S. Pedro do Rio Seco, aos poucos, vão-se desbravando e trilhando os caminhos da transição. Já entregámos na Câmara de Almeida, para aprovação, o projecto de arquitectura da recuperação da Casa do Chorro, a primeira que a Rio Vivo escolheu para servir de modelo de reconstrução de casas tradicionais da aldeia. É uma casa que se destinará a albergar a gente jovem que queremos trazer para a aldeia, os novos povoadores, como já lhes chamam.

Na reconstrução da Casa do Chorro vamos aproveitar as paredes exteriores em granito, e nas paredes interiores vamos utilizar os materiais e as técnicas tradicionais. Vamos utilizar o barro ou a terra crua.  Foi uma sorte termos assistido, aqui há uns meses atrás, à palestra, promovida pelo grupo de Transição da ART,  proferida pela  arquitecta Vera Schmidberger, e que nos alertou para estas técnicas construtivas.

Por causa disso, e por que estávamos a tempo, mudámos os planos da reconstrução. O arquitecto Ferreira de Almeida que tinha o projecto já finalizado, aceitou de bom grado adaptá-lo aos novos materiais,  e está agora perfeitamente sintonizado com a opção escolhida. O António André já foi ao "Caminho da Junça" e ao "Alto de Carapito" recolher amostras da terra argilosa que as Oficinas da Terra Crua vão analisar. Depois, na altura do tempo quente,  havemos de construir os adobes e secá-los ao sol.

O Zé e o Tiago, vencedores do prémio Riba Coa, andam ocupados a desbravar o terreno do Salgueiral onde desenvolvem  a permacultura; O Filipe Vilhena e o Tó Pigas, sempre que podem, aparecem para ajudar. Já estão construídas as “camas” para as culturas, a estufa já tem germinadores, as árvores de fruto já mostram os primeiros rebentos.

Na Asta, que é uma associação que vale a pena conhecer, fomos ouvir falar de agricultura social. A quinta da Asta já produz, o entusiasmo não falta, e os produtos da terra já ajudam a compor o orçamento da Associação.

Na Cabreira, localidade onde fica a Asta, conhecemos o António e a Regina que abraçaram a profissão de pastores e já tratam de 300 ovelhas. Mas são muitos os problemas que têm de enfrentar: custos a crescer, crédito cada vez mais caro e difícil. E o escoamento dos produtos sempre na dependência dos compradores. Pagaram pela tosquia, mas não conseguem recuperar este custo com a venda da lã. Estas iniciativas têm de ser acarinhadas, elas são o caminho certo para o futuro, e nós, na Rio Vivo, tudo faremos para as apoiar.

Em Almeida, na Câmara Municipal, ficámos a saber que existe na Malhada Sorda uma olaria de barro vermelho, preparada para trabalhar e que só espera os oleiros para começar a laborar. Eu ainda me recordo, no tempo da minha infância em S. Pedro, dos cântaros da Malhada Sorda, que estavam no basal da cozinha e onde se guardava a água da casa. Vai ser feita uma visita ao local, e a ideia é estudar a viabilidade desta unidade. Depois, procurar e trazer os oleiros para trabalhar. Mais uma vez, a Rio Vivo vai empenhar-se no processo.

A Paula está empenhada em relançar, em S. Pedro, o ciclo do linho. Os mais velhos ainda se lembram das tarefas desta actividade: colheita, a molha na ribeira, a espadeirada, a cardação, a fiação, a tecelagem. Estender um dia, sobre a mesa da refeição, uma toalha de linho produzido, fiado e tecido em S. Pedro, é um sonho possível.

E a Escola continua viva. A Caetana cativou miúdos e graúdos.
Em S. Pedro, vamos transitando...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

População e Consumo de Petróleo

No último século, a população mundial quadruplicou, passando de 1,7 mil milhões, no início do século XX, para os 6,5 mil milhões de pessoas no ano 2000. Actualmente já somos mais de 7 mil milhões. Por outras palavras, pode afirmar-se que, nos últimos 100 anos, a população mundial aumentou exponencialmente com uma taxa de crescimento de 1,8 %, e que duplicou nos últimos 40 anos.

Contudo, se observarmos o crescimento da população em diferentes áreas do planeta, verifica-se que o mesmo não foi uniforme. Em muitas dessas áreas o crescimento foi muito forte e noutras foi muito fraco, nulo, ou até mesmo negativo. No primeiro caso, estão países da África subsariana, da América Latina e da Ásia, e no segundo, estão alguns dos países mais desenvolvidas da Europa e da América do Norte.

E as previsões da Organização das Nações Unidas apontam para que a população mundial seja, em 2050, de cerca 9 mil milhões. São previsões preocupantes tendo em conta que mais população significa necessidade de mais alimento, de mais energia, e de mais recursos. Num planeta finito e com recursos limitados, coloca-se uma vez mais a eterna pergunta: até onde poderá crescer a população mundial, e quais são os limites a esse crescimento?

O que provocou o grande aumento populacional dos últimos 100 anos,  foi o grande crescimento económico, a revolução verde, e o desenvolvimento tecnológico.  Mas a perfeita correlação entre aumento populacional e consumo energético deixa claro que foi a disponibilidade de uma energia abundante e barata (sobretudo o petróleo), a verdadeira causa deste extraordinário crescimento.













E se um dia faltarem os recursos para sustentar o crescimento populacional o que acontecerá? Como é que poderá ser contido esse crescimento?  Naturalmente, baixando a natalidade, ou aumentando a taxa de mortalidade ou as duas coisas ao mesmo tempo. Mas seja qual for a opção, as consequências são imprevisíveis. Porém, uma coisa parece certa: se os limites forem ultrapassados, e nós não formos capazes de fazer a regulação, o planeta vai encarregar-se de a fazer.

 Não podemos meter a cabeça na areia e ignorar esta realidade. É hoje evidente que os recursos (energéticos, hídricos e minerais) não poderão acompanhar as previsões do crescimento populacional. O progresso tecnológico, também ele, tem limites.   Teremos de passar a consumir menos, e de reaprender a andar a pé, e a cultivar a terra.