segunda-feira, 11 de março de 2013

A Opinião e o Fado


Portugal é como um barco  à deriva.  Não tem projeto, não tem destino, nem tem rumo. E, o mais grave,  navega em águas revoltas. Não podemos parar o barco, nem abandoná-lo. Navegamos inseridos numa flotilha que é a Comunidade Europeia, e temos de seguir na sua esteira, mas desconfiamos que os comandantes dessa flotilha também não conhecem o rumo, e muito menos o destino. A única orientação vem de fora, são os mercados, os credores, as organizações internacionais...e interrogamo-nos se será isto um mal necessário? Estas situações sem saída, ou em que cada saída é uma emenda pior que o soneto, são geradoras de incerteza, de conflito, de angústia e de revolta.
 
Os portugueses vieram à rua dizer que isto não é vida, que são contra  esta política de austeridade, e que ela não vai conduzir a nada, ou antes, que só pode levar a mais austeridade e mais empobrecimento.  Mas cada nova manifestação traz mais angústia porque só serve para nos mostrar a nossa impotência e confirmar o óbvio: estamos desorientados. Os políticos e os economistas (de todos os quadrantes) já há muito se demitiram de nos mostrar o caminho, e isto porque não o conhecem. Limitam-se a dizer-nos o trivial, que a solução para a pobreza e para o desemprego é o crescimento económico. Ora o crescimento é a saúde da economia, e é como se estivessem a dizer a um doente: para se curar, o senhor precisa de recuperar a saúde. O que não ajuda nada, antes pelo contrário, conduz  a mais revolta e mais desespero.

Depois temos os comentadores que nos ajudam a manter a crença de que há saída e que eles a conhecem... Portugal é um país de colunistas e fazedores de opinião. Em cada dia publicam-se em Portugal mais de 100 artigos de opinião, 36,000 por ano. Temos Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Mário Soares,  Freitas do Amaral, e muitos outros que em tempos já foram políticos e hoje são comentadores e colunistas. E sem esquecer o inefável  Medina Carreira que diz que o doente não tem cura se não se lhe fizer uma sangria... o mesmo é dizer que o país,  para não morrer da doença, terá de morrer da cura.

Vistas bem as coisas, na ausência de uma linha política coerente de quem governa o país, são estes comentadores politicos que  nos orientam. São eles que nos dizem o que foi bem feito e mal feito, que nos explicam as razões dos comportamentos das personalidades da cena política, que avaliam as medidas e os seus timings. Quase nos levam a acreditar que se eles governassem, nos conduziriam pelo bom caminho. Mas estes comentadores são uns vendedores de ilusões, profetas da desgraça, que nada criam e nada constroem.

Cá para mim, a causa do mal do país não é Coelho, nem Gaspar, nem sequer o questionável Relvas. O mal deste país é o fado que é, afinal, a aceitação passiva e conformada do destino. Ora, o fado exercita a garganta, mas tolhe as mãos e adormece a mente.

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