segunda-feira, 22 de abril de 2013

A Lã

A história da lã acompanhou de perto a história da civilização humana. A lã vestiu reis e rainhas, deu trabalho a pastores e artificies, e foi responsável pelas primeiras fábricas da  era industrial. Mas o esplendor da era do carbono, com o sucesso das fibras artificiais a que deu origem, está a relegar para segundo plano esta matéria prima maravilhosa.

A lã é  o pelo de certos animais, e dela existem mais de 200 variedades.  Do pelo das cabras, provém a famosa lã de caxemira,  e a fina lã  mohair .  Pode fiar-se lã de alpacas, de camelos, de lamas, de bisonte, de cavalos, de cães e até a levíssima e apreciada lã dos coelhos angorá. Mas a lã por excelência, a lã do nosso imaginário,  é a lã de ovelha.

A domesticação dos ovinos ocorreu no Médio Oriente há cerca de 9,000 anos e, juntamente com a domesticação da vaca e do cavalo, constituiu um passo decisivo para criação dos primeiros  povoados agrícolas que estiveram na base da sedentarização, e foram o início da aventura humana cujas urbes acabariam por cobrir todo o planeta.

A ovelha é um animal dócil, símbolo da inocência. Ela teve um grande significado nas culturas que floresceram no médio oriente, onde a economia estava centrada na pastorícia. A Bíblia está cheia de referências aos pastores e aos seus rebanhos.  Jacob, o patriarca das tribos de Israel, foi o pastor de Labão,  a quem serviu para casar  com as suas duas filhas, primeiro com  Lia e depois com Raquel. O cordeiro era o animal que se sacrificava na Páscoa dos judeus.  E o Cristo redentor foi apresentado por João Batista como o Cordeiro de Deus.

Ainda hoje existe uma dinâmica atividade económica ligada á criação de ovinos. A ovelha produz  a carne o leite o couro e a lã.  A lã de ovelha começou a ser fiada e tecida há mais de 5000 anos.  É uma fibra maravilhosa:  é leve, resistente e flexível; aquece sem abafar, respira; lava-se e recupera a sua forma original; não cria humidade, não favorece o desenvolvimento de ácaros e parasitas.. É um produto natural e biodegradavel. Mas, acima de tudo, a lã é  conforto, suavidade, carinho e aconchego. Numa palavra, a lã é nossa amiga.

No conforto da vida moderna, em que as coisas aparecem milagrosamente nas lojas, esquecemo-nos da arte de tratar a lã. No início da primavera o tosquiador, com a sua tesoura e a sua arte, liberta a ovelha da sua proteção do inverno. O resultado é um velo de lã, semelhante a  um suave sobretudo. Depois a lã é lavada pois o velo, além da sujidade que acumulou durante o ano inteiro, ainda está impregnado com a gordura natural da ovelha, a lanolina.  A lavagem é feita com vulgar sabão,  sem danificar a fibra, à temperatura certa para a lã não feltrar.

Depois carda-se a lã e penteia-se para estender e ordenar e estender as fibras. Pode-se tingir antes de passar à fiação que tradicionalmente  era feita com as rocas ou com as rodas de fiar. O fio é estendido, pode ser singelo ou dobrado e doba-se para formar as meadas e os novelos. Finalmente a lã pode ser tecida ou tricotada e está pronta a ser usada.

Numa economia de transição a lã voltará a ter um lugar que lhe compete. Não se pode perder o saber milenar de tratar a lã. Porque são estes saberes, herdados dos nossos antepassados, que temos de recuperar e valorizar para ajudar a reconstruir a esperança no futuro. O crescimento e o emprego também passam por aí.


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