O petróleo é o principal motor da economia global. Isso tornou-se particularmente claro em 1980 no período que ficou conhecido como o segundo choque petrolífero (o primeiro tinha ocorrido em 1973), quando, na sequência da guerra Irão-Iraque, os preços do crude dispararam e a economia mundial entrou em recessão. No anos que se seguiram, a estratégia política e económica dos países desenvolvidos centrou-se na segurança e na defesa das fontes de energia. Os países da OCDE criaram a Agência Internacional de Energia, sediada em Paris, para enfrentar futuras situações de crise. Iniciou-se um vasto programa de construção de centrais nucleares, desenvolveram-se novas bacias petrolíferas nomeadamente no mar do Norte, no Alaska e no Golfo do México. Com a doutrina Carter, foi revista e redefinida a estratégia militar dos Estados Unidos que elegeram o Médio Oriente como a principal zona a defender. Com a retração da economia, verificou-se uma queda no consumo de petróleo, e, como consequência disso, a partir de meados da década de 80, os preços voltaram a cair.
A queda dos preços fez com que o consumo e a produção de crude aumentassem de novo. Entretanto, verificou-se um ressurgimento do gás natural como alternativa ao petróleo nas centrais termoelétricas. Tudo isto conjugado fez com que, durante toda a década de 90, voltasse a haver abundância energética, a baixo preço. As economias cresceram. O aumento da frota automóvel e a rápida industrialização dos países emergentes (sobretudo a Índia e a China) fizeram crescer o consumo de petróleo. Entre 1985 e 2005 o consumo de energia fóssil, a nível mundial, duplicou. Desde 1985 até aos nossos dias esse consumo representou 50% de toda a que já foi consumida pela humanidade. Este período de ressurgimento teve um efeito no aumento do crédito, fez crescer a dívida de muitos países, impulsionou investimentos em obras públicas, e fez disparar o preço das casas. E teve o seu epílogo na crise de 2008.
Com efeito, a partir de 2005, começou a sentir-se de novo escassez de petróleo. A produção do chamado petróleo convencional, aquele que é extraído nas jazidas tradicionais a baixo custo, estagnou. Ressurgiu a produção da Rússia, depois dos problemas associados à crise de desmembramento da União Soviética, mas tal não conseguiu compensar as quebras na Indonésia, no golfo do México, no mar do Norte e no Alaska. Depois dos acidentes de Chernobil e Three Mile Island, e devido à escassez de urânio, a via nuclear começou a ser encarada com muitas reservas . Os países produtores de petróleo (México, a Venezuela, o Irão, a Arábia Saudita), conscientes do seu poder, criaram as suas próprias empresas petrolíferas.
Para responder à escassez, a busca de alternativas energéticas desenvolveu-se em
três direções: a produção de biocombustíveis, o desenvolvimento das energias renováveis (hídricas e não hídricas) e o recurso a formas não
convencionais de produção de petróleo. Neste último caso, falamos da extração a partir da conversão em líquido do gás e do carvão, das areias betuminosas do Canadá, das lamas da
Venezuela, das jazidas de águas profundas (Angola, Golfo do Mexico, Brasil), e, mais recentemente, dos
depósitos de gás e de petróleo associados às rochas de xisto (EUA).
Muita da esperança de contrariar a previsível escassez de crude, tem-se desenvolvido à volta das jazidas associadas às rochas de xisto. Trata-se de uma técnica conhecida há mais de 50 anos e que nos últimos anos, devido ao elevado preço do crude, teve um desenvolvimento extraordinário nos Estados Unidos, e que está já a ser testada em muito outros países. O petróleo e o gás são extraídos pela técnica da fraturação hidráulica, conhecida por
fracking. As perfurações são feitas na vertical até encontrar as camadas de xisto impregnadas de gás e de petróleo. A uma profundidade que pode ultrapassar os mil metros, a perfuração passa a ser horizontal para acompanhar as camadas sedimentares. Devido à fraca porosidade das rochas xistosas, os hidrocarbonetos não fluem naturalmente. Para os libertar, injeta-se, a grande pressão, uma mistura de água com outros produtos químicos, e isto provoca a fraturação da rocha.
Estes furos exigem um considerável investimento estimado em cerca de cinco vezes o dos furos tradicionais, e têm um tempo de vida útil de extração que é de cerca de metade daqueles. Por estes motivos, esta tecnologia só é viável com preços do barril de crude acima dos 70 dólares. O retorno energético do
fracking é muito baixo: fala-se de que, por este processo, com a energia de um barril de petróleo se extraem entre 3 a 5 barris. Nas jazidas da Arábia Saudita esse valor pode chegar a ser de 1 para 100.
Admite-se de que, nos Estados Unidos, a produção com esta técnica pode aumentar gradualmente até 2020 podendo chegar a 4-5 milhões de barris por dia (cerca de 5% da produção mundial), e a partir dessa data comece a diminuir. A tecnologia do
fracking surge como um
Eldorado que vem trazer um novo alento à economia global. Reestabelece uma expetativa de crescimento e criação de emprego que se estava a perder. Contudo, existem graves riscos ambientais associados a esta tecnologia como sejam a poluição do aquíferos e do ar provocado pelos químicos utilizados e pela libertação de metano, a destruição de solos, e até a possibilidade de ocorrência de sismos.
Na minha opinião, o maior perigo é que se crie a ilusão de que esta fonte é inesgotável, e de que ela venha a resolver os problemas da escassez de petróleo. A solução
fracking insiste nos combustíveis fosseis, ou seja, mais do mesmo, e os problemas ambientais e alterações climáticas vão agravar-se. O retorno energético (EROEI) vai baixar, e pode ficar abaixo do ponto crítico necessário para, no longo prazo, a justificar. O esforço para o desenvolvimento das energias a partir de fontes renováveis vai afrouxar, a globalização vai acreditar que tem uma nova oportunidade e que a Transição pode esperar. É importante extrair as lições do passado, evitar as armadilhas do crescimento contínuo, e aproveitar o balão de oxigénio do
milagre do xisto para preparar o futuro...O pico de petróleo pode ter sido adiado por mais uma ou duas dezenas de anos, mas no essencial nenhum dos seus pressupostos está alterado. E para os ambientalistas que se preocupam com as alterações climáticas, o
fracking não é uma boa notícia.