segunda-feira, 21 de abril de 2014

Demografia

Segundo uma teoria cientificamente fundamentada, há cerca de 75.000 anos, a super-erupção de um vulcão na Indonésia, conhecida como a catástrofe de Toba, provocou um inverno vulcânico em todo o planeta, dizimou espécies e terá reduzido a população do homo sapiens a uns escassos 10.000 indivíduos. Durante milhares de anos, esse reduzido grupo conseguiu reproduzir-se, dispersar-se e crescer, e já seriam de cerca de 200.000 quando, há aproximadamente 10.000 anos, ocorreu a revolução agrícola. Isso aconteceu no Médio Oriente, nos vales onde correm o Tigre e o Eufrates, quando o homem domesticou animais e abandonou a vida nómada para começar a fixar-se, cultivar cereais e outras plantas, e criar animais que lhe forneciam alimento e o ajudavam a amanhar a terra.

Apesar da introdução de alfaias, de novas técnicas de cultivo e de irrigação, já Thomas Malthus há 200 anos se questionava sobre a possibilidade da agricultura tradicional poder satisfazer as necessidades de uma população em crescimento geométrico. Mas a Revolução Industrial, que teve uma componente tecnológica e outra energética, veio permitir a apropriação pelo homem de imensos recursos e desvanecer os receios existentes. Os recursos foram as imensas reservas de combustíveis fósseis acumulados durante milhões de anos. E foi a sua utilização, particularmente na agricultura, que permitiram produzir o alimento e criar o conforto que, nos séculos seguintes, haveriam de possibilitar a explosão exponencial da população humana.

Com efeito, o crescimento da população dos seres humanos, ocorrido entre 1800 e 2000, foi impressionante. Nesse curto período de tempo, o número de pessoas à face da Terra passou de mil milhões para seis mil milhões. A taxa máxima anual de crescimento, de 2,2%, foi atingida em 1963. Este facto tem levado algumas pessoas a comparar a disseminação da espécie humana ao das pragas de outras espécies, onde a característica comum é a propagação rápida e exponencial da sua população. Ocorrências como esta têm lugar sempre que se cumprem quatro condições: abundância de alimento, boa capacidade de reprodução, meio ambiente favorável, e, finalmente, a ausência de predadores.

Os avanços da medicina e das condições sanitárias permitiram controlar infeções provocadas por vírus e bactérias que, durante muitos milhares de anos, foram os principais predadores da espécie humana. Ao mesmo tempo os avanços extraordinários registados na prevenção e tratamento das doenças – com destaque para a prática cirúrgica - foram responsáveis pela redução da mortalidade e pelo aumento da esperança de vida. O crescimento populacional tem vindo a desacelerar de forma progressiva desde 1963 e, segundo algumas previsões, pode chegar a anular-se ainda durante este século. Ora, quando isso acontecer as taxas de natalidade e mortalidade tornar-se-ão iguais, e a população na Terra estabilizará nos dez mil milhões de pessoas.

Quando a população estabilizar – como resultado de serem iguais as taxas de natalidade e mortalidade –, ter-se-á completado um processo designado por transição populacional. Mas a estabilização conseguida não pode ser comparada com aquela que existia antes de 1800. Na previsível situação que ocorrerá a partir de 2050, as taxas de natalidade e mortalidade, embora igualadas, registarão ambas valores mais baixos do que antes de 1800. A estabilização acontecerá com uma população com maior esperança de vida, mais envelhecida, na qual a percentagem de mulheres em idade fértil será também inferior. A população, embora estável em número, tenderá a envelhecer de forma continua. E, tudo o indica, haverá uma degradação das condições ambientais, provocadas pelo aquecimento global. E a generalização das práticas de contraceção será uma forma de iludir a atração sexual, que é a principal arma natural para a propagação das espécies.

A demografia é o maior desafio que a humanidade enfrentará no próximo século. A população não vai poder crescer face à finitude e progressiva escassez de recursos, nomeadamente de energia, de água doce e de solo arável. Mas, paradoxalmente, a sua estabilização nos pressupostos da transição populacional, resultará num progressivo envelhecimento e perda de vitalidade da espécie. Haverá fortes assimetrias regionais: em algumas regiões - como será o caso de África - a população continuará a crescer e noutras, o caso da Europa, passará a decrescer. E isso poderá provocar pressões e conflitos inter-regionais.

Até agora todo o progresso económico, social e cientifico tem visado a pessoa humana, isto é, o individuo. Poderá chegar um dia em que esse progresso tenha forçosamente de se orientar para a espécie humana. Nessa altura conceitos como Propriedade, Democracia, Liberdade e Direitos do Homem terão de ser revistos. E as consequências serão imprevisíveis.

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