segunda-feira, 2 de junho de 2014

O Elo Mais Fraco


A ideia de progresso está ligada à ideia de complexidade. O plasma inicial do big bang produziu as partículas atómicas elementares e, mais tarde, o átomo de hidrogénio - um protão e um eletrão girando em torno dele -, que é o mais simples de todos os átomos. Foram os átomos de hidrogénio que formaram as primeiras estrelas, e foi no interior dessas estrelas que, por ação da pressão e da temperatura, aqueles  átomos simples se fundiram para gerar outros átomos. Formaram-se, deste modo, os elementos mais pesados que se dispersaram na explosão das supernovas e que haviam de formar os planetas.

O átomo de carbono é o mosaico da vida. Associado com outros elementos forma moléculas com estruturas progressivamente mais complexas. Foi nos meandros dessa complexidade que surgiu a Vida, primeiro elementar, depois mais elaborada e diferenciada. Apareceram os seres unicelulares, os microrganismos, os primeiros invertebrados, os peixes, os répteis, as aves, os mamíferos e, finalmente, o homem. A complexidade da criação é desorganizada, não existe uma programação ou uma construção dos seres mais evoluídos. A evolução é gerida pelo acaso e pela lei das probabilidades, mas parece haver um determinismo que favorecendo  as soluções, produzidas pelo acaso, faz com que tenham um sentido. A vida não foi criada por um sopro divino, mas parece existir uma mão invisível que a protege quando ela se manifesta.  E este determinismo está aparentemente em contradição com os princípios da Física que dizem que as coisas, entregues a si próprias, se vão progressivamente degradando.

Nas sociedades humanas, o progresso consiste também no aumento da complexidade e na diferenciação  entre os indivíduos. Teve um primeiro grande impulso há um milhão de anos pela descoberta do fogo, quando o homem começou a cozinhar os alimentos e a apropriar-se da energia da biomassa. Mas foi sobretudo nos últimos dez mil anos, quando o homem começou a cultivar a terra e a fixar-se nas margens dos rios e dos lagos, que essa diferenciação se acelerou. As sociedades indiferenciadas de caçadores-recoletores transformaram-se na sociedade global dos nossos dias. De tal forma, que existem atualmente dezenas de milhares de funções diferentes na sociedade global.

A complexidade social, suportada pelo  sistema económico - ele próprio um sistema complexo, ao contrário da complexidade desorganizada do cosmos-, é uma complexidade organizada. Ela surge e  desenvolve-se quando se torna necessário superar dificuldades ou  encontrar soluções para os problemas. Essas soluções implicam a  introdução de novos agentes, de novas relações, aumentam  a dependência entre os elementos, criam novas redes, ampliam as existentes, tudo no sentido de aumentar a complexidade

Foi Joseph Tainter, um antropólogo e historiador, que no seu livro Colapso das Sociedades Complexas, alertou para alguns aspetos cruciais inerentes ao progresso. Começa por nos dizer que a complexidade tem um custo associado, o qual identifica como sendo um custo energético. A sua tese é de que o custo de aumentar a complexidade tem retornos decrescentes, e, sendo assim, chegará o momento em que já não compensa aumentá-la. Isso acontecerá quando o custo associado a esse aumento - ou até à sua manutenção - for inferior aos benefícios que acarreta. Numa tal situação, pode mesmo haver um quebra brusca de complexidade, que significa, para Tainter, o colapso. Dá exemplos de sociedades onde isso já aconteceu, nomeadamente o caso, que ele estudou, do Império Romano.

Nos sistemas complexos existem dois riscos:  o custo de manter a complexidade e o aumento da probabilidade de  ocorrência de ruturas nas redes que a suportam. Alguns desses sistemas são particularmente sensíveis. E destaco entre eles o sistema financeiro, o sistema de comunicações e os sistemas de segurança.  O sistema financeiro que suporta a economia tem uma grande e crescente complexidade. E já nos demos conta - recordo a crise de 2008 - quão frágil e vulnerável ele é. Nos anos recentes, a informática e as comunicações estão na base de um extraordinário acréscimo de complexidade  e a  Internet, que alia a informática às comunicações, é o expoente dessa nova complexidade. Este sistema, que cresce exponencialmente, é também de uma grande vulnerabilidade e é muito grande a dependência que estamos a criar em relação a ele.

Também não podemos esquecer que existem grupos de pessoas interessadas em interferir nos sistemas vulneráveis e sensíveis. Isso tem provocado que se tenha criado um sistema envolvente - refiro-me ao sistema de segurança -, que visa proteger os outros sistemas vulneráveis. Ora o sistema de segurança é, ele próprio, um sistema de grande complexidade, muito sensível e com custos crescentes.

O crescimento demográfico, a escassez de  recursos- em particular os energéticos- e o risco ambiental - poluição e alterações climáticas - serão as forças determinantes da ameaça de colapso que forçosamente a espécie humana terá de enfrentar. Elas conjugam-se. Mas o gatilho que as libertará poderá estar a ser armadilhado nos sistemas complexos da sociedade e da economia. O elo mais fraco poderá ser a Internet, o sistema financeiro, a rede elétrica, a rede energética  ou os sistemas de segurança.

Se um dia se romper o elo mais fraco, a complexidade reduzir-se-á drasticamente

1 comentário:

  1. Tudo isto é um conjunto de aldrabices e divertimentos racionalistas. Porque eu ainda ontem bati um papo com duas Testemunhas que me garantiram que "está demonstrado por homens da ciência que seria perfeitamente possível viverem no planeta, uma vez ressuscitados, todos os seres humanos que o habitaram e já morreram. E mais, foram até agora 17 mil milhões. Olarila!

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