segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

As Dimensões da Política

A paleta das tonalidades partidárias é muito vasta, existindo partidos para todos os gostos: mais ou menos liberais, mais à direita ou mais à esquerda, mais ou menos inspirados pela religião, mais conservadores ou mais tolerantes, socialistas, republicanos, nacionalistas, regionalistas, anarquistas ou radicais e comunistas. E surgem de quando em quando, quase sempre de forma efémera, pequenos partidos criados com vista à defesa de interesses de pequenas minorias ou de causas pontuais.

A recente vitória do Syriza na Grécia e a ascensão do Podemos em Espanha vieram contrariar a tradicional prevalência dos partidos liberais e socialistas que, nesses países e até agora, se têm alternado no poder. Na Grécia, o partido mais sacrificado com a vitória de Tsipras foi o PASOK. Também em Espanha, o crescimento do Podemos está a ser feito à custa do PSOE, o partido socialista tradicional. Trata-se de uma tendência com causas que radicam na crise e na austeridade que lhe sobreveio, e cujo desenvolvimento e consequências ainda não são fáceis de prever.

No mundo ocidental, até à revolução francesa e independência americana, foi sobretudo a dimensão religiosa que mais influenciou a política. No século XIX, os partidos parlamentares nascidos nas monarquias constitucionais e inspirados nas tradições dos velhos regimes, formaram-se com base nas elites oriundas da nobreza rural. A revolução industrial, com a produção em massa, provoca o aparecimento de uma nova classe operária fortemente organizada em associações de classe que começam a contestar a velha ordem. A Igreja com a sua doutrina social tenta adaptar-se ao novo mundo, ao mesmo tempo que as ideias de democracia de igualdade e de liberdade avançam e se afirmam.

O marxismo - tal como foi levado à prática por Lenine na União Soviética - rompe definitivamente com as velhas elites e com a tradição cristã, e introduz uma rotura drástica na organização económica. Pela primeira vez, questiona-se a propriedade privada da terra e dos meios de produção, e a transmissão dessa propriedade aos descendentes. O Estado passa a ter um papel completamente diferente como promotor de uma economia de novo tipo baseada na planificação da produção e não nas leis da concorrência. Entretanto, a inesperada abundância de recursos energéticos e o desenvolvimento tecnológico destroem a dicotomia capital-trabalho, permitem a criação de elevados níveis de conforto, libertam a mulher das tarefas do lar, e contribuem para o aparecimento de uma vasta classe média, fortemente consumista, que acaba por submergir o modelo marxista-leninista.

Nas democracias modernas, saídas do pós-guerra, temos assistido a uma alternância entre dois partidos de ideais muito próximos que aceitam, ambos, as leis da economia de mercado - propriedade privada, livre iniciativa e transmissão da propriedade - e se inspiram nos direitos do homem. A única receita que conhecem e propõem para o desenvolvimento social é a do crescimento económico. Divergem em aspetos relacionadas com a maior ou menor intervenção do Estado na economia, na maior ou menor abrangência do serviço social e na política fiscal que incentiva a criação e promove a distribuição da riqueza. Estes partidos alicerçam-se em novas elites que tudo fazem para influenciar a opinião pública -que vota!- e, assim, se perpetuar no poder.

Os novos partidos emergentes - falo do Syriza e do Podemos - são a consequência do progressivo esvaziamento de uma classe média devorada pela crise económica, pelo cortejo do desemprego e pela perda do poder de compra. Os apoiantes destes partidos já perderam praticamente tudo o que tinham a perder; só lhes resta a contestação. Votam neles por razões de protesto, embalados por promessas de inversão da espiral de pobreza e da austeridade. Mas estes partidos não apresentam um ideário de rompimento com os partidos do arco do poder. Não propõem uma nova economia nem anunciam uma nova moral ou uma nova forma de viver ou de consumir. São fraturantes, apenas porque são do contra, porque questionam as elites, porque rompem com o estado das coisas e acabam, desta forma, por provocar agitação social e obrigar a ajustamentos.

Não serão ainda estes os movimentos que transportam no seu ideário as sementes para a Transição que o planeta exige e a Humanidade aspira para se regenerar. Nesse aspeto estão mais próximos os partidos ecologistas, resultado da consciência de que existe um choque entre a economia e a sustentabilidade ambiental. Mas estes partidos também não têm uma proposta económica viável, apenas são a expressão de uma vaga crença de que é possível prosperar sem crescimento. E na angústia provocada por um futuro incerto e perigoso, o cidadão comum espera as respostas que tardam em aparecer!

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