segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Migrantes II


Em épocas recuadas as migrações sempre existiram. Muitas dessas migrações ficaram conhecidas na História pela designação de invasões. Os bárbaros invadiram o império romano; os árabes invadiram a península ibérica; os mongóis invadiram a Rússia; povos germânicos e celtas invadiram os territórios limítrofes para se expandirem. Eram invasores e procuravam conquistar territórios pela força. Mas no fundo eram migrações e na base estava a necessidade de conquistar um espaço vital para a tribo ou para o povo.

O envelhecimento da população, a economia acéfala, predadora e consumista, a falta de ideais, as contradições do projeto de construção, a submissão militar à América, a falta de liderança centralizada e a generosa proteção proporcionada pelo estado social enfraqueceram a  Europa. O espaço europeu ficou altamente vulnerável a ser invadido. Na verdade, a invasão da Europa já começou há muito, de uma forma lenta mas contínua. Os episódios de Malta e de Lampedusa já indiciavam que o surto era para continuar. Acredito que não estava na previsão dos dirigentes europeus esta repentina invasão pacífica e massiva do seu espaço. Por isso a desorientação que ela está a provocar.

Este fluxo de refugiados/migrantes/invasores é apenas uma primeira onda. Neste momento, os refugiados vêm sobretudo da Síria mas a próxima onda pode vir do Paquistão, do Afeganistão, do Egito ou de toda a África subsariana. Quem sabe, se até da própria Índia. E se os ucranianos se entusiasmarem com o exemplo? Essa onde pode tomar a forma de um tsunami imparável. As causas são várias e complexas, mas a principal será o desequilíbrio demográfico e económico entre espaços contíguos. E tudo fica facilitado pela globalização e pela facilidade de transporte. Entretanto, do outro lado do Atlântico, a América assiste e não se pronúncia. América que na sua avaliação da situação na Síria, ao rejeitar apoiar Bashar Al Assad, esteve, como causa mais próxima, na origem da tragédia humana que se vive nas fronteiras europeias. Foi uma visão míope, possivelmente motivada pelo receio da influência da Rússia junto do presidente sírio, que  provocou a escalada do conflito armado e precipitou os acontecimentos.

A questão dos refugiados, migrantes ou invasores - a designação para o caso pouco interessa - é muito mais importante do que pode parecer à primeira vista. Não se trata de pessoas que procuram temporariamente fugir aos horrores da guerra e da fome. São pessoas que deixaram de ter condições de subsistência nos seus países de origem e por isso migram para onde vêm uma solução, um espaço vital. Como é que a Europa vai fazer a integração destes refugiados? Esta é a grande questão. Estas pessoas precisam de trabalho - escasso! - e de assistência  - cara! E têm uma cultura que, sob muitos aspetos, choca com as dos países de acolhimento. Não será um processo fácil, pois não se trata de pessoas dóceis mas de pessoas que rapidamente irão reivindicar direitos. O aspeto religioso não é menos importante. No conflito tribal que se começou a desenhar com o ataque ao Charlie Hebdo, as chances favorecem a tribo invasora, pois os seus elementos reproduzem-se mais, têm menos a perder e têm a crença religiosa e a fé do lado deles.  Os europeus tradicionais - entenda-se, de formatação cristã -, vão jogar tudo na assimilação dos emigrantes/invasores ao modelo ocidental -  modelo político e económico, pois não têm outro. Existem fortes motivos para duvidar que isto possa  ser feito de forma pacífica.

Por outro lado, se a questão for bem gerida, estes refugiados podem ser uma grande oportunidade para a Europa. Esta invasão pode funcionar como uma espécie de transfusão de sangue num corpo moribundo. Tenho a impressão que a Alemanha já pressentiu isso. Existe, desde o tempo do Império Otomano, uma inclinação dos alemães por estes povos de raiz ariana.  Se tivesse vingado o projeto do Kaiser Guilherme II de construir uma via férrea entre Berlim e Bagdad, tudo estaria facilitado neste momento para os refugiados.

Na minha opinião, Portugal deveria tomar uma posição proativa neste assunto pois  precisa destes emigrantes como pão para a boca. Eles poderiam servir para repovoar o nosso interior desertificado e para voltar a ocupar os terrenos agrícolas e as casas vazias e semi abandonadas das nossas zonas rurais. Não acredito que os nossos governantes entretidos com a pequena política tenham visão estratégica para considerar, dessa forma, a integração desta gente. E a oportunidade vai perder-se.

Na Europa, terão de ser os países mais ricos a suportar o principal esforço de integração. Vai haver forte divisão interna - vão extremar-se posições entre conservadores e  progressistas - e poderão ter de ser tomadas fortes medidas restritivas à circulação de pessoas, opostas ao espírito de tolerância que norteou a construção europeia. Os países periféricos, como Portugal,  vão passar a receber menos ajuda pois estes deslocados vão absorver uma parte dela. e os orçamentos não são elásticos. A prazo, o próprio serviço social estará ameaçado e as nossas reformas também. Em suma, a já fraca coesão europeia vai ser posta à prova. E pode acontecer que não resista!

Nada vai ser com dantes,  O futuro será muito diferente daquilo que tínhamos imaginado. E as surpresas vão continuar...


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