segunda-feira, 7 de março de 2016

À Espera do Refluxo

No passado dia 2 de março, um dia depois de ter sido acusado de práticas fraudulentas em transações de terrenos, Aubrey McClendon, o célebre multimilionário fundador da Chesapeake Energy, a maior empresa de fracking americana (extração de gás e petróleo de xisto), morreu com 56 anos, num acidente de automóvel em Oklahoma. Ao que tudo indica, lançou, a grande velocidade, o seu automóvel contra um muro de betão, num aparente ato de suicídio.

A Chesapeake, a empresa que McClendon fundou e dirigiu durante vários anos, enfrenta graves problemas financeiros, ameaçando não poder cumprir os seus compromissos de dívida. Nos últimos dias, as ações da empresa, que há apenas um ano e meio cotavam a mais de 35 dólares, atingiram mínimos de 1,5 dólares. Este é o panorama generalizado do sector do fracking cuja produção, ao contrário do que se esperava, já se encontra em queda. Para muitos analistas, poderemos estar perante o princípio do fim do sonho americano de o país se tornar a curto prazo independente como produtor de energia fóssil. Sonho alimentado por uma enorme máquina de propaganda que captou poupanças de pequenos investidores, e que agora as vêem em risco de se perderem.

O que se passa nos Estados Unidos é uma consequência da crise resultante da queda do preço que afeta os países e as empresas produtores de petróleo. Entretanto, começam a emergir outras situações preocupantes e que podem ter um grande impacto no futuro. Na Venezuela, a petrolífera estatal, PDVSA, estará também em situação de falência técnica e com dificuldades em importar o petróleo leve que as refinarias precisam para misturar com o petróleo pesado local. A mexicana Pemex confronta-se com elevados prejuízos e problemas de liquidez, em parte derivados de uma significativa redução da produção que passou, nos últimos 10 anos, de 3, 2 milhões de barris/dia para 2,2 milhões de barris/dia. Em África, são os três maiores produtores (Argélia, Angola e Nigéria) que enfrentam problemas. Para já não falar da situação no Iraque, onde não tem sido possível atingir os níveis de produção que justificaram a guerra de George W. Bush, e se esperavam após a queda de Saddam Hussein. As grandes empresas petrolíferas (BP, Shell e Exxon) apresentam problema de rentabilidade, fazem despedimentos e cortam nos investimentos. Em 2015, os investimentos na prospeção de novas jazidas terão sido reduzidos em 15% e essa redução vai continuar a verificar-se pelo segundo ano consecutivo em 2016, o que é uma situação inédita no sector, e que terá, a breve prazo, consequências na produção.

Para muita gente não são percetíveis as razões que levaram a este estado de coisas. E não compreendem como foi possível a baixa do preço da matéria-prima, um facto que, pelos vistos, ameaça a curto prazo estrangular a produção. Porém, mais do que o excesso de oferta ou a redução da procura, haverá interesses geoestratégicos ligados aos conflitos no Médio Oriente e à intenção de apertar um garrote à economia russa. Interesses que parecem ser a verdadeira causa da baixa do preço do crude. Aliás, à semelhança do que já tinha acontecido nos anos do colapso da União Soviética.

O sector energético - e o sector petrolífero em particular - é o mais sensível na economia mundial. A queda dos preços a que assistimos pode ser apenas o recuo da maré que precede o tsunami - traduzido numa nova escalada de preços do barril de petróleo - que pode abater-se sobre a economia global. No longo prazo, a Humanidade, para prosperar, tem de contar com as energias alternativas onde predominam a eólica e a solar. A energia de origem fóssil é finita e um dia iniciará a sua queda inexorável. Conseguir criar as condições necessárias para se fazer a sua substituição sem sobressaltos é o maior desafio que se coloca aos vindouros.


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