terça-feira, 12 de abril de 2016

Portugal de Lés a Lés


Motivos que se prendem com o trabalho da Fundação Vox Populi, levaram-me, na última semana, a percorrer Portugal de lés a lés. Na tarde do dia 6 de Abril, estive, com a minha mulher, na Escola secundária de  Vila Real de Santo António numa sessão de formação com professores locais sobre técnicas de realização de sondagens de opinião.  No sábado, dia 9, encerrávamos um périplo de quatro dias com um jantar em Caminha, num agradável convívio com os meninos do Jardim de Infância.  Para trás ficava  a visita a uma  fábrica de burel em Manteigas, a visita à escola infantil do Corgo em Vila Real (Trás os Montes), uma reunião com o diretor da Escola de Caldas das Taipas, uma reunião com a vereadora da juventude da Câmara de Braga e uma sessão de formação, com professores do Nepso, no Centro Educativo da Facha, em Ponte de Lima.
  
Nestas digressões, evoco o Portugal da minha infância, das aldeias remotas, com agricultores, feiras de gado, tabernas, casas de hóspedes  e casas de pasto. Onde se  conduzia pelas antigas estradas "feitas ao quilómetro", serpenteando por montes e vales. O Portugal de hoje é, numa visão de relance, um país de eucaliptos e autoestradas. É, todo ele, um país urbano. As casas das aldeias, equipadas com todos os confortáveis electrodomésticos e com garagem para o automóvel, em nada diferem das casas das cidades. Nos dias de hoje, já nenhum português ganha a vida amanhando a terra com  a força dos braços e com o suor do rosto. As pensões, de restaurante no primeiro andar, transformaram-se em hotéis de charme ou em casas de turismo em que a estadia se reserva no "booking.com".  As pizzarias os Mc´donalds e os fast food  das grandes superfícies - onde se bebe cocacola e refrigerantes - substituíram as velhas tabernas e casas de pasto onde vendia vinho a granel.

Não ousarei dizer que o Portugal e 2016 é um país melhor ou pior que o Portugal de 1960, que evoco atrás. É um país diferente. Mais confortável, mais civilizado e mais culto. Com escolas mais modernas e mais bem equipadas.  Com muito  do património recuperado e com os centros históricos das localidades limpos e embelezados. Com gente mais obesa - em geral, nos restaurantes come-se mal e em demasia-, e gente mais envelhecida. E mais desesperançada. Nota-se  uma grande desordem urbanística nas novas construções, como se fossem colagens de projetos individuais  sem a preocupação da harmonia coletiva. O velho choca com o novo, o rico destoa do pobre, a nobreza convive com a vulgaridade, o bom e o mau gosto, lado a lado. Sente-se que, na sofreguidão do crescimento e da convergência com a Europa, se queimaram etapas. Tudo mudou demasiado depressa.

Desta viagem pelo Portugal integrado na Europa, recordo alguns clichés: em Vila Real de Santo António  a Escola é moderna e arejada, mas o equipamento ficou a meio; as máquinas das oficinas da antiga Escola Industrial foram vendidas a peso e ao desbarato, e os alunos não têm, agora, condições para poder trabalhar com as mãos; talvez por isso, na fábrica de burel em Manteigas dizem-nos que os jovens não gostam do trabalhar com as máquinas; uma mãe, empregada de um hotel no Minho, queixa-se da qualidade da educação que é ministrada à sua filha de 13 anos; em Ponte de Lima, no dia 8 de Abril, às 22 horas - nós, que em Lisboa nunca vamos ao teatro -,  entramos, por acaso, no velho teatro Diogo Bernardes e assistimos com mais outras sessenta pessoas a uma bem cuidada representação da "Cantora Careca" de Eugene Ionescu.

A educação é o caminho.  A este propósito, repesco do facebook da Câmara Municipal de Caminha o seguinte relato que nos enche de  orgulho e alimenta a esperança. O que ali se escreve, só por si, justificou a viagem:
No passado dia 9 de Abril, as crianças do jardim de Infância de Caminha promoveram um jantar-festa do bacalhau. O jantar continha todas as iguarias gastronómicas ligadas ao bacalhau e que muitos desconheciam como as caras de bacalhau, a língua de bacalhau, os samus, o bacalhau de cebolada, entre outras. As crianças orientadas pelas educadoras Manuela e Conceição  estão a concorrer ao projeto “Rato da Biblioteca” da Fundação Vox Populi com o tema “As outras caras do bacalhau”. Através deste estudo pretende-se que as crianças e a comunidade guardem para o futuro a herança, e a história dos homens - “as outras caras do bacalhau” - que durante todo o século XX andaram à pesca do bacalhau. Pretende-se, ainda, recolher depoimentos dos pescadores que partiam para as águas geladas da Terra Nova e da Gronelândia e das mulheres que ficavam com os filhos. 
Como parceiros na construção do conhecimento, estimulando os mais pequenos investigadores de Caminha, além da já referida Fundação Vox Populi, encontra-se a União de Freguesias de Caminha e Vilarelho, a Câmara Municipal de Caminha, o Museu Marítimo, Museu Navio Santo André,  o Agrupamento de Escolas Sidónio Pais, Pescadores Locais e  Encarregados de Educação.  

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