segunda-feira, 23 de maio de 2016

O Fim do Capitalismo?

O jornalista inglês Paul Mason é o autor de um livro intitulado O Pós-capitalismo - Um Guia Para o Nosso Futuro no qual defende a ideia de que o capitalismo, enquanto sistema económico e social, está esgotado e tem de ser substituído. Não vê o novo sistema como uma ideia utópica difícil de ser concretizada na prática, mas acha que - tal como o capitalismo que floresceu nos últimos 200 anos - terá de ser um sistema robusto, capaz de se impor e de alimentar-se a si próprio. Ele surgirá como resultado de uma evolução natural operada no seio do capitalismo. Para Mason o capitalismo é como um organismo vivo, tem vida própria, adapta-se e mutaciona-se. Comporta-se como que movido por um instinto de sobrevivência, comandado pelas mudanças tecnológicas que estão a ocorrer no mundo.

Paul Mason acha que o capitalismo, por ser incapaz de adaptar-se às mudanças tecnológicas em curso, está moribundo, e que dos seus escombros, tal como a Fénix, irá renascer o pós-capitalismo. As organizações, e mesmo o comportamento das pessoas, já começaram a adaptar-se para explorar as mudanças tecnológicas. Relativamente a essas mudanças, enuncia os três fatores que, nos últimos 25 anos, tiveram maior impacto: 1) a informação reduziu a necessidade de mão de obra e alterou a relação salário trabalho, e, além disso, a relação entre o tempo livre e o que é dedicado ao trabalho; 2) os mecanismos de mercado para formação de preços não funcionam para os produtos de informação; 3) o aparecimento de uma nova forma de produção - a produção colaborativa -, citando como exemplo a Wikipedia, fruto do contributo voluntário de milhares de pessoas. E sintetiza, dizendo: a informação dissolve os mercados, destrói a propriedade e rompe a relação entre trabalho e salário.

Quando falamos de capitalismo referimo-nos à economia de mercado, um conceito que se consolidou no século passado, quando nós acreditámos que existiam duas economias, a economia de mercado e a economia planificada, e que reduzíamos as opções alternativas à dicotomia: capitalismo versus socialismo. A economia de mercado (com os seus benefícios e malefícios!), graduada por maior ou menor intervenção dos estados (podendo ser mais conservadora ou mais liberal), afirmou-se como a economia natural. A mão invisível de que falava Adam Smith, que empurra, cegamente, tudo e todos para o crescimento, faz lembrar a lei da seleção natural - o que não se adapta, morre! - de que falou Charles Darwin.

A tendência de evolução, apontada no livro que temos vindo a seguir, já está a alterar o quadro político tradicional com dois partidos alternantes: a direita e a esquerda. No século passado, a esquerda imaginou que o fim do capitalismo seria ditado pelo sucesso das economias socialistas. Ora, nessas sociedades o individualismo destruiu o coletivismo e, afinal, foi o projeto apresentado como o ideal da esquerda que faliu. A economia colaborativa de que fala Mason é um novo caminho, concluindo que a esquerda perdeu a liderança para apontar a mudança. Surgiu um novo tipo de contestação, novos partidos e novos movimentos, e com eles a necessidade de novas etiquetas para os nomear. O movimento dos indignados veio mostrar que algo se quebrou no capitalismo; as futuras revoluções serão de um tipo muito diferente das anteriores. A rede global já não pode ser silenciada, e já não é possível desinstalar a Internet. O infocapitalismo criou um novo agente de mudança. O homem em rede é esse agente. O pós-capitalismo será o resultado dessa mudança.

Aqui deixo estas notas de leitura do livro de Mason recentemente publicado entre nós. O assunto é muito interessante, e abre uma janela de esperança para a prosperidade da humanidade que muitos de nós julgávamos definitivamente perdida. Porém, ele não se esgota aqui. Então, voltarei ao tema, para detalhar melhor o pensamento do autor, tentar perceber os seus argumentos e, eventualmente, detetar e apontar aquilo que julgo serem as suas falhas e contradições.

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