terça-feira, 7 de junho de 2016

Ciclos de Esperança

Se olharmos para o que foi o mundo dos últimos 250 anos encontramos saltos qualitativos e quantitativos extraordinários. Tudo começou com a Revolução Industrial, que transformou o velho mundo rural num mundo comandado por máquinas e fábricas que vieram ocupar o lugar dos artesãos e das suas oficinas. Nesse período, o comboio substituiu o cavalo para levar os homens mais longe, ao mesmo tempo que o trator agrícola e os fertilizantes permitiram retirar mais alimentos da terra ocupando menos gente nesse labor. Contrariando as teses de Malthus a população aumentou sete vezes e as pessoas passaram a ter mais conforto. O progresso chegou a quase todas as partes do planeta; atenuou-se a divisão entre países industrializados e países do terceiro mundo.

Ao olharmos para as etapas que marcaram esse período, verificamos que elas constituem ciclos de desenvolvimento que vão surgindo a intervalos regulares:

A Revolução Industrial - 1776
O ciclo dos navios a vapor e dos caminhos de ferro - 1830
O ciclo do aço e da indústria pesada - 1875
O ciclo do petróleo e do automóvel - 1908
O ciclo do eletrodoméstico e da produção em massa - 1948
O ciclo da informação e telecomunicações -1971
O ciclo da Internet - em curso

Muitos economistas, alinhados com as conclusões do trabalho do russo Nikolai Kondratieff, não aceitam uma crise final do capitalismo, mas apenas ciclos com as suas fases: expansão, maturidade, declínio e depressão. Desde o início da revolução industrial que esses ciclos se têm sucedido a períodos regulares, sempre associados a inovações tecnológicas. Na fase de expansão verifica-se a adoção progressiva das novas tecnologias, acompanhada da criação de empregos nos sectores emergentes. Na fase de maturidade assiste-se a uma a explosão do crédito o que, já na fase de declínio, provoca um desajustamento entre esse crédito e a produção. Finalmente, na fase da depressão, rebenta a bolha de crédito e instala-se a crise.

Com diferentes argumentos, a teoria dos ciclos económicos foi contestada por Karl Marx e por Lenine e também pelos ideólogos do bolchevismo, Leon Trotsky e Nikolai Buckharin, que advogavam a ideia de que o capitalismo estaria irremediavelmente condenado ao fracasso. Ainda hoje persiste a discussão acerca desta questão. Por isso, não admira que ela tenha sido reintroduzida no ensaio de Paul Mason de que tenho vindo a falar - Pós- capitalismo- Um guia para o nosso futuro. Nesta teoria dos ciclos tem-se menosprezado o factor energético, privilegiando-se o factor tecnológico e a inovação. No entanto, bem vistas as coisas, desde o início da revolução industrial tivemos apenas dois grandes ciclos: o ciclo do carvão e o ciclo do petróleo. O novo ciclo da informação e da Internet - uma revolução na forma de comunicar - é já um ciclo de uma natureza diferente.

Assim, estaremos na iminência de um novo ciclo do capitalismo que trará uma nova fase de progresso ou estamos perante um declínio irreversível do capitalismo como sistema? Se é certo que existem variáveis de natureza cíclica como o crédito, a rentabilidade, as taxas de juro e até a produção per capita, também é verdade que algumas variáveis têm tido uma preocupante progressão unidireccional. Estão neste caso o consumo energético per capita, a produtividade agrícola, a população mundial, a complexidade organizativa, a concentração de gases de efeito de estufa na atmosfera e o aquecimento global. Vivemos um desafiante tempo de transição. Será o pós-capitalismo a resposta para o ressurgimento?



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